A Capoeira é o caminho da liberdade. Foi assim para os negros escravizados, tem sido assim a quantos se aproximam dela na intimidade. A Capoeira é dança, foi preciso ser assim. Noite e dia, o Senhor, chicote na mão, tinha o olho no negro, o fuzil engatilhado no caminho da fuga, da liberdade.
Mas dançar não era proibido, criar, brincar com os movimentos como fazem os animais. “Melhor ter escravos alegres”, havia de pensar o Senhor, “produzem mais na lavoura!”.
“À noite os homens fogem”, dizia o velho ao menino, ao pé do ouvido, “aprenda a dançar, esteja pronto para se juntar aos livres!”. Eram os primeiros ensinamentos, a semente da liberdade plantada na beleza na alegria da dança.
Adestrar-se, superar-se, conhecer o próprio corpo, suas possibilidades e limites, mudar a sorte, resgatar a liberdade, edificar a personalidade, o caráter, erguer o espírito. Era a chama a mover o menino, nortear o jovem, aconselhar ao velho.
E a vida tem ciladas, inimigos mortais, obstáculos difíceis, tem planícies, corredeiras, cachoeiras!
Liberto o homem interior, fugir é um imperativo. Mesmo que custe a vida, a escravidão não é mais possível. Lá fora, no Quilombo, a vida é outra vez livre, como outrora, na África.
E, enquanto espreita a liberdade o negro dança, é preciso dançar, estar pronto. A oportunidade vem de surpresa, não avisa, não manda recado.
De repente, a sós, longe do olhar do Senhor, do fiscal, à sombra da lua nova ou por entre os milharais a dança se revela, sorriso no rosto, gestos decididos, movimentos livres, começa o jogo da vida.
Capoeira agora é luta, uma luta de bailarinos, uma dança de gladiadores.
“Berimbau ta me chamando, já é hora de lutar”.